Em 1º de
abril de 1964 eu tinha 16 anos, morava em Porto Alegre e já gostava de
política.
Não era
ligada a nenhum grupo, mas, era de esquerda e por isto torcia para que as
reformas propostas pelo governo do Jango dessem certo.
Sei que é um
lugar comum, mas juro que “parece que foi ontem”!
Tive a sorte
de nascer numa família em que a política era um dos temas favoritos. Meu avô
Sampaio, pai do meu pai, era um humanista/ socialista e simpatizante do PSB.
Lá pelos
anos 40,Jorge Amado, então na clandestinidade, foi seu hóspede. E isto que ele era um desembargador (mas, naquela época já
aposentado)!
Os almoços
de domingo da minha infância eram na casa dos meus avós e a família toda se
reunia. Assunto predileto? Política, ora bolas.
Meu pai (o
cartunista Sampaio) simpatizava com o Partido Comunista, meu tio Paulo (o
também cartunista SamPaulo) era admirador do Brizola...
Resumindo,
eram travados maravilhosos e inflamados debates com todos opinando!
Minha avó se
preocupava porque os vizinhos poderiam pensar que era briga, tal o entusiasmo e
o volume das vozes.
Em março de
1964, eu estudava no Colégio Estadual Júlio de Castilhos, o Julinho, conhecido
núcleo de esquerda de Porto Alegre e era colaboradora do Setor Cultural do
Grêmio Estudantil.
Lembro que
gostava mais de estar na sala do grêmio do que assistindo às aulas, rsrsrs.
A
“efervescência política” era grande e vou usar novamente um lugar comum: foram
bons tempos aqueles...
Meu pai era
um jornalista conhecido que trabalhava à noite na TV Gaúcha, fazendo ao vivo as
charges do “Show de Notícias”, um dos programas de maior audiência da
televisão.
Na noite de
31 de março de 1964, como em tantas outras, ele saiu da TV com alguns amigos e
foi terminar a noite em um restaurante na Rua da República, perto da nossa
casa.
E sabem qual
foi o resultado da noitada?
Na manhã
seguinte, dia 1º de abril, minha mãe e eu, com balde, esponja, sabão e
paciência, tivemos que limpar os azulejos da parede onde meu pai tinha
feito, com pincel atômico, um enorme painel contra o golpe, com milicos
enforcados e outros desenhos do tipo!
Pode ser que
os mais jovens não saibam, mas este painel significava cadeia na certa.
Porque este
foi um dos grandes problemas que o golpe de 64 (ou a ré-evolução de 64) nos
trouxe: não sabermos o que era proibido, o que podíamos e o que não podíamos
fazer, o que podíamos e o que não podíamos falar, o que podíamos e o que não
podíamos ouvir, o que podíamos e o que não podíamos ler, o que podíamos e o que
não podíamos pensar.
Aqueles não
foram bons tempos...