Maria Lucia P. Sampaio
Florianópolis. SC.
8.3.23
14.2.23
meu amigo, Jun
Jun Nakabayashi foi embora em agosto de 2022 e ainda hoje sinto uma grande tristeza. Escrevi este texto naquela ocasião, mas por algum motivo que não lembro, não postei. Posto agora.
Cada querido da gente que se vai é um pedaço da nossa vida que vai junto. Nos relacionamos com cada um deles de uma forma única porque cada um deles é único. Todos são insubstituíveis e deixam em nós uma parte vazia que preechemos com as lembranças.
Cheguei em Concepción, no sul do Chile, em julho de 1971. Renato Dagnino, então meu namorado e hoje pai dos meus filhos Ricardo e Miguel, já estava lá e fui encontrá-lo. Ele fugia da perseguição movida pela ditadura brasileira que o afastou por quatro anos da UFRGS. Ao contrário dele, apesar de participar do movimento estudantil em Porto Alegre, não havia nenhuma acusação contra mim.
A cidade tinha menos de 400.000 habitantes e uma das universidades mais importantes do país, a Universidad de Concepción. Fazia muito frio, chovia e ventava muito.
Não havia muitos brasileiros, porque a grande maioria preferia viver em Santiago. Quando cheguei, éramos nove, mas depois outros foram chegando.
No meu primeiro dia na cidade fui presenteada com um "temblor", um terremoto fraquinho. Estava em uma reunião na universidade e foi lá que conheci Jun, Lúcio e Bene, estudantes e militantes do MIR (Movimento de Esquerda Revolucionária). Jaime, Bretas, Percy e Célia Sampaio (um casal já com filhos), os outros brasileiros que viviam em Concepción, conheci dias depois.
Sempre tive um grande carinho pelo Jun e até hoje não sei muito bem o porquê. Filho de japoneses era, como se costumava dizer, "um cara na dele", bem ao contrário de mim que falo até com os cachorros da rua, rsrs. Sempre foi assim, mas, de vez em quando, ele perdia a paciência comigo!
Convivemos por quase três anos e, por alguns meses, moramos juntos: Jun e Marta (sua companheira argentina), Renato e eu.
Foram maravilhosos os tempos que vivemos no Chile até que o golpe do Pinochet, em 1973 acabou com o nosso sonho da possibilidade de uma transição pacífica ao socialismo, pregada por Allende.
Naquela ocasião, Renato e eu estávamos em Concepción, Marta estava na Argentina para o parto da primeira filha, Adriana, e Jun estava em Osorno, cidade mais ao sul, onde lecionava na universidade. Não havia forma de nos comunicarmos com ele.
Logo que cheguei, dois anos antes, fiz amizade com o consul honorário do Brasil, um senhor inglês. Esta amizade foi muito útil nos dias posteriores ao golpe porque, com a ajuda dele consegui localizar o Jun, mas como isto foi a muito tempo, não lembro bem como aconteceu.
Quando ele esteve em Porto Alegre, em um dos foros sociais mundiais, perguntei o que havia acontecido na prisão e ele, então, me contou toda a tortura que sofreu. Chorei muito, mas no dia seguinte, não lembrava de nada, como não lembro até hoje. O relato foi tão terrível que preferi esquecer.
Depois, obrigado a sair do Chile exilou-se na Europa. Durante o tempo em que esteve fora do Brasil trocamos algumas cartas, mas acabamos perdendo o contato. Só de vez em quando recebia alguma notícia dele dada por algum amigo comum.
Foi quando eu morava em Campinas, entre o segundo semestre de 1978 e a metade de 1979, que Jun foi anistiado e pode voltar ao Brasil. Não é frase de efeito, não, "lembro como se fosse hoje" do momento em que soube. Voltava para casa e, no rádio do carro, escutei a notícia de que ele havia chegado em São Paulo. No mesmo dia, peguei o guia telefônico e tentei encontrar a irmã dele que conheci em Concepción. Falei com vários Nakabayashi, até encontrar o Jun e lembro o quanto fiquei feliz!
Depois, separou-se da Marta com quem teve dois filhos, casou com a Célia e cada vez que eu ia a São Paulo, me levava para passear e conhecer a cidade! Como vou sentir saudade dos nossos passeios...
Foi um cara e tanto, cheio de amigos! A última vez que nos vimos foi em 2019, quando nos reunimos com os moradores de Concepción que hoje vivem em São Paulo. Depois disto, só conversamos pelo telefone.
Pois é, cada querido da gente que se vai é um pedaço da nossa vida que vai junto.
Beijo e saudade, Jun.
9.7.22
¡Ojalá todo cambie!
Me sinto feliz por ter tido a oportunidade de vê-la no palco
e de me emocionar com ela, como estou me emocionando agora.
O Brasil, neste momento triste, ficou lá fora.
O mundo em guerra ficou lá fora.
De vez em quando é preciso fugir. Gracias, Mercedes.
Aqui, feliz, dança e canta com o público, uma "cueca" do chileno Júlio Numhauser:
"Cambia lo
superficial
Cambia
también lo profundo
Cambia el
modo de pensar
Cambia todo
en este mundo
Cambia el
clima con los años
Cambia el
pastor su rebaño
Y así como
todo cambia
Que yo
cambie no es extraño
Cambia,
todo cambia...
Y el más
fino brillante
De mano en
mano su brillo
Cambia el
nido el pajarillo
Cambia el
sentir un amante
Cambia el
rumbo el caminante
Aunque esto
le cause daño
Y así como
todo cambia
Que yo
cambie, no extraño
Cambia,
todo cambia, sí, señor, ya cayo, ya cayo
Cambia,
todo cambia...
Y el sol en
su carrera
Cuando la
noche subsiste
Cambia la
planta y se viste
De verde en
la primavera
Cambia el
pelaje la fiera
Cambia el
cabello el anciano
Y así como
todo cambia
Que yo
cambie, no es extraño
Cambia,
todo cambia...
Pero no cambia
mi amor
Por más
lejos que me encuentre
Ni el
recuerdo ni el dolor
De mi
pueblo y de mi gente
Y lo que
cambió ayer
Tendrá que
cambiar mañana
Así como
cambio yo
En esas
tierras lejanas
Cambia,
todo cambia…
Pero no
cambia mi amor
Por más
lejos que me encuentre
Ni el
recuerdo ni el dolor
De mi
pueblo y de mi gente
Y lo que
cambió ayer
Tendrá que
cambiar mañana
Así como
cambio yo
En estas
tierras lejanas
Cambia, todo cambia..."
1.3.22
25.2.22
Lembranças do Facebook
Me interesso por
política desde que nasci porque conviver com os Sampaios era ouvir conversas sobre políticos e discussões políticas desde muito cedo. Meu avô, em
1954, foi candidato a governador do Estado pela Frente Popular e eu, com 7
anos, participei da campanha!
Nunca aceitei
gurus, nem o "centralismo democrático" e nem algumas outras
características que os partidos de esquerda tinham e que me lembravam a “santa
madre igreja” (os amigos de esquerda entenderão sobre o que eu falo).
Infelizmente, o PT onde
eu militei e que eu defendi com ardor acabou.
Não vi o partido
chamar para nem uminha mobilização em apoio ao governo Dilma! Quem chama é a
frente da qual o PT faz parte.
Que absurdo é este?
Agora, quando três
senadores do PT não estavam presentes nesta votação fundamental, para alguns
companheiros de esquerda a culpa é da Dilma e muitos estão declarando não
apoiar mais o governo porque "cansaram" dos seus erros.
Deixar de apoiar a
Dilma e fazer o que mesmo?
Quem sabe não seria
bom aceitar que o PT mudou e mudou muito!
Quem sabe não está
na hora de encarar de frente esta tristeza?
O PT deixou pelo
caminho a sua ideologia e, assim como outras experiências mundiais, a “burrocracia”
tomou conta dos rumos do partido e tornou-se maioria!
Todo o meu apoio ao Governo Dilma!
1. não lembro mais a que votação me referia na época, se alguém souber por favor me diga. Fiz uma busca no Google e não achei nada;
2. em 2015, também no FB, declarei que era Dilmista e não mais petista. Hoje, acredito que Lula é muito maior do que o PT.
Fevereiro de 2017
Todos nós que lutamos por um outro mundo e que acreditamos na utopia do “hombre nuevo” estamos nos sentindo como escreve Maria Lucia Dahl. Ainda acredito que um outro mundo é possível, mas, certamente, com outras pessoas...
"Estive pensando muito na minha geração, da qual fui fã e tiete. Admirei e defendi ardorosamente toda a sua virada de mesa dentro de um contexto geral: político, social, sexual, bissexual, feminista, libertário e até na revolução da moda , das saias, dos cabelos, reflexo imediato do pensamento revolucionário.
Mas agora, depois dessa mesma geração estar no poder comecei a repensar
nossas atitudes. Pra mim, 68 não tinha erro, embora fosse uma geração experimental
e nem toda experiência seja fadada ao sucesso, mesmo que eu continue achando
muito melhor tentar do que ficar parado, até prova em contrário.
Quando o pai da minha filha, líder estudantil e exilado político,
discursava na Cinelândia, ao lado de Vladimir Palmeira, dizendo: “Nós vamos
tomar o poder”, eu me preocupava, porque os achava jovens demais, sem
experiência nem prática, apenas terminando a faculdade.
Então, trinta anos depois, quando finalmente tomamos o poder, pensei: “agora
tudo vai dar certo. Está todo mundo mais velho, mais sábio, mais experiente e
amadurecido em suas ideias. O que eu não podia imaginar era que, pelo menos a
maioria não pensava mais daquele jeito.
Como posso admitir que alguém vá preso e torturado por um ideal se
realmente não acredita nele acima de tudo? Ninguém é crucificado pra ficar
rico, privando o povo de escolas, hospitais, aposentadoria, dignidade. Isso pra
mim não bate. Ou se está de um lado ou de outro.
Será que, diferentemente do que eu achava, se tivessem tomado o poder quando
jovens, teria sido diferente? Que só jovem tem ideologia? Que com a idade
troca-se a ideologia pelo poder? Que a força da grana, como diz Caetano, ergue
e destrói coisas belas? Que éramos apenas sonhadores, como dizia Bertolucci?
Libertários na ficção, na imaginação e que a teoria, na prática era outra?
Por um momento fiquei confusa, até constatar que continuo acreditando
nos mesmos valores: democráticos, políticos, sociais, bissexuais, feministas,
libertários. Continuo acreditando em “liberdade sem medo”, que era o lema de
Summerhill, o que havia de mais amoroso e avançado em matéria de educação,
continuo acreditando no amor e na paz como condições definitivas para o
progresso, continuo apoiando a verdade contra os fingimentos da década de 50,
cheios de garçonnières, esconderijos, traições, mentiras.
Mas infelizmente, não acredito mais no ser humano. Não era o pensamento
nem o ideal da minha geração que estavam errados, ambos estavam certíssimos, e
não tenho dúvidas de que pertencia a uma juventude que queria mudar o mundo de
verdade.
Não acho que tenhamos sido apenas sonhadores. Nossa teoria estava certa
e o sonho só acabou, como disse Lênin e depois Lennon, porque o homem continua
bárbaro e não evolui um segundo da Idade da Pedra, até agora, em matéria de
consciência.
Prefere a guerra, o desamor e o sofrimento em nome do dinheiro e do
conforto. Mas que conforto, se o feitiço virou contra o feiticeiro? Quem
espalha miséria, sofrimento, escravidão, receberá tudo isso de volta. É a lei
do retorno, da consciência, dos atos.
Para que vivêssemos em paz, bastaria amar o próximo como a nós mesmos.
Por isso acho que não foi Summerhill que errou em dar liberdade sem medo às crianças,
não é a opção sexual que nos faz melhores ou piores, mas o fingimento, a
mentira. Tudo o que não for verdadeiro sairá do fundo do poço, felizmente
sobrando a esperança, como na caixa de Pandora. Basta saber o que fazer com
ela.
Por que não foi o sonho que acabou, mas o homem que escolheu o
pesadelo."
29.1.22
A história de um CD histórico: “Águas Abertas” de João Palmeiro.
O músico João Palmeiro faleceu no dia 23 de janeiro passado, em Porto Alegre.
Apesar de ser o talentoso autor de inumeráveis canções, só teve um CD gravado do qual eu tive a alegria de ser a produtora.
Aí vai o relato do que lembro, 27 anos depois da gravação. Abraço a todos e espero que curtam!
Quando criança, eu ia muito à piscina do Grêmio Náutico Gaúcho, clube cujos sócios eram na sua maioria moradores do bairro Menino Deus, em Porto Alegre.
Havia um sobrado antigo onde, no andar de cima, ficava o
salão de baile. Lembro que em algumas tardes, subia a escadaria para ver e
ouvir uns guris, mais velhos do que eu, que tocavam e cantavam lá.
Adolescente, deixei de ir ao clube.
A vida seguiu: casei, morei no Chile, em Brasília, em Campinas, tive filhos, me separei e voltei a morar em Porto Alegre no início de 1980.
Ao retornar, fiz amizade com o Toneco, que me convidou para fazer vocal num show
dele e do Giba Giba, em 1982. Sempre gostei de música e sempre cantei: nas festas da
escola, no orfeão artístico, no coral de câmara, nas festas com os amigos, com
os colegas da faculdade de arquitetura, onde tinha chance... Cantar com eles
foi a minha porta de entrada para conhecer e fazer amizade com muitos músicos.
E foi assim que fiz amizade com o João. Ele era um grande contador de histórias e eu
gostava muito de ouvi-las. Carinhosamente, me chamava de Mariazinha, a princesa
portuguesa, e para mim ele era o João das Palmeiras! E não é que mais tarde
descobri que era ele um daqueles guris que eu via e ouvia no Gaúcho? rsrs
Mas, o João era um ser complexo: em um momento era afável,
carinhoso, bem-humorado e, no momento seguinte poderia ficar muito irritado e
até violento, mesmo com os amigos mais queridos. Acho que tinha consciência
disso, já que na letra de “Armadilhas” ele nos disse: “quem me pensa as feridas,
se eu agrido os amigos...”.
Nessas ocasiões se transformava em uma outra pessoa, ficava difícil lidar
com ele e o melhor era se afastar até que tudo passasse. Logo passava e os
amigos sempre o perdoavam.
Naquele tempo, João morava em um antigo casarão em
Teresópolis, na companhia dos músicos Zé Caradípia e dos saudosos Cenair Maicá
e Talo Pereira. As portas ficavam sempre abertas para os amigos que se
encantavam com suas muitas e lindas composições.
E foi nestas idas à casa dele que Toneco, Glória Oliveira e
eu, começamos a incentivar o João a gravar suas criações.
O Coordenador de Música da Prefeitura de Porto Alegre era
Carlos Branco, meu amigo desde o final dos anos 80 quando eu programava e
produzia “O choro é livre” no Theatro São Pedro e quando ele ainda era um baita
violonista e um grande “chorão”.
Branco havia criado um projeto com o objetivo de gravar
músicos “da antiga” que nunca tinham tido o seu trabalho registrado. O primeiro da série foi o LP da Banda Municipal do Maestro Macedinho e o segundo ainda estava sendo pensado. Aproveitei a chance, fiz a proposta, ele aceitou e só faltava convencer
o artista.
E não é que o João começou a se entusiasmar? Mas, ainda com
um pouco de dúvida porque a prefeitura estava com o PT e ele não gostava dos
“barbudinhos”, apesar de ter vários amigos de esquerda, inclusive eu. Expliquei
que ele não teria contato com ninguém do governo, a não ser com o Branco e deu
certo, ele aceitou!
Seriam lançadas mil cópias em CD, não em LP. Não gostei
disto, porque naquela época os CD´s ainda eram raros e os CD’s Player muito
caros. Achei que pouca gente teria a chance de ouvir. Mas por sorte, o
Branco não me deu bola, rsrs!
Era início de 1994, João, Toneco e eu começamos a planejar o CD e a estabelecer algumas diretrizes:
- só seriam convidados para participar os intérpretes que já haviam cantado as composições dele (uma pessoa que até ali tinha desconhecido o seu trabalho me procurou e queria cantar. Brigou comigo quando eu disse que não);
- a escolha dos instrumentistas seria feita pelo João e pelo Toneco;
- os arranjos e a produção musical seriam do Toneco. Um belo dia, uma certa pessoa sussurrou no ouvido do João que o Toneco não poderia exercer as duas funções ao mesmo tempo e deixou ele em dúvida. Claro, este alguém queria ser o produtor musical do CD. Conversei com o João, dei um corridão no dito cujo e pronto, assunto resolvido;
- não seria consumida bebida alcoólica durante as gravações (não queria correr o risco daquele "outro João" aparecer por lá) e inventei que esta era uma exigência dos dirigentes do estúdio;
- todas as gravações seriam feitas à noite, horário em que todos estariam disponíveis. Eu o buscaria em casa para que participasse das gravações e depois o levaria de volta;
- o João não queria cantar, então respeitaríamos a sua vontade e ele não cantaria;
- as
fotos para o CD seriam feitas por seu grande amigo Assis Hofmann.
Havia ainda um “pequeno” problema: a verba disponível era
mínima e não haveria como pagar cachês. Problema logo resolvido porque TODOS os
convidados aceitaram e, mais, se sentiram honrados, porque eram amigos e
admiradores do João.
Lembro de um deles, que era militante da antiga ARENA, ter
me contado que ficou muito espantado por ter sido convidado para participar,
porque a prefeitura estava com o PT.
A gravação seria no estúdio da ISAEC, na época comandada
pelo Francisco Aneli, o técnico de som seria o o Luiz Bozó (hoje Luca Pedregosa, feliz da vida na Itália) e a assistente de estúdio a Daise Dockhorn. Um pessoal muito querido que logo se entusiasmou
com o projeto.
Toneco, eu e João escolhemos dezoito músicas, uma pequena
amostra de suas inúmeras composições. Cada intérprete cantaria a música que
esteve ou estava no seu repertório.
As músicas escolhidas foram: Santuário, Rio do Siriú, No
tempo (parceria com Robson Barenho), Ontem, hoje e amanhã, Onde singram e
balouçam as canoas d’um pau só, Caminho do Oswaldino (parceria do Zé
Caradipía), O trabalho do Milton, Armadilhas, Águas abertas, O orvalho e a rosa
(parceria com Mutinho), Outonal (parceria com Ivaldo Roque), A solidão vertical
do edifícios, Mirante, Girassóis (parceria com Clóvis Alegre que hoje se assina
Alegre Corrêa), Moça Litorânea, Samba da Borges (outra parceria com Mutinho),
Popa de leque e O calhau.
Isto posto, foi escalado o time de intérpretes e
instrumentistas:
Participaram do CD como intérpretes: Fátima Gimenez e sua
filha Adriana, Flora Almeida, Glória Oliveira, Josiane Picada, Zé Caradípia e
Heleno Gimenez nos vocais.
Os instrumentistas foram: Adão Pinheiro (piano e arranjo da
sua faixa), Argos Montenegro (bateria), Beto Bollo (violão), Chico Gomes
(flugelhorn) Clóvis Ibañez (harmônica), Evaldo Guedes (contrabaixo acústico),
Fernando do Ó (percussão), Geraldo Flach (piano e arranjo de "orvalho e a Rosa"), Luiz
Carlos Borges (acordeom), Pedro Figueiredo (flauta), Renato Borghetti (gaita
ponto), Ricardo Arenhaldt (bateria), Ricardo Pereyra (cello), Toneco da Costa
(produção musical, piano, violão e arranjos) e Zé Caradipía (violão).
Entusiasmado, João mudou de ideia e resolveu que também
cantaria! Ele cantando foi uma grande surpresa para nós porque era a primeira vez em
que entrava num estúdio e gravou como um profissional.
Em junho de 1994 as gravações começaram. O clima foi sempre
de muita alegria, com o João felicíssimo na companhia de seus amigos queridos
vendo o seu trabalho sendo curtido e valorizado.
Tudo decorreu muito bem, com alguns pequenos percalços,
rsrs. Lembro de alguns:
- O contato com o Borghetti foi feito pelo João e quando ele
chegou no estúdio não sabia em que músicas participaria (seria em duas, ambas
cantadas pelo João). Levou uma gaita
ponto que só “tocava” em um determinado tom (não sei se todas eram assim), mas
o João já tinha gravado cantando em outro tom. E, para piorar a situação, o
Borghetti só poderia gravar naquela noite porque já tinha uma viagem
programada.
Foi quando o Bozó lembrou de umas “máquinas” antigas que
havia no estúdio, que tinham vindo dos Estados Unidos em 1970, quando o estúdio
foi montado pela Igreja Evangélica de Confissão
Luterana. Foi a nossa salvação!
Moral da história: o Borghetti tocaria no tom da sua gaita,
mas a tal máquina modificaria o som a ser gravado passando para o tom em que o
João cantava. Mas, para complicar um pouco mais a vida do Borghetti, ele tocaria em um tom e nos
fones de ouvidos escutaria o João cantando em outro.
Mas, tudo saiu perfeito, com Borghetti improvisando e mais
uma vez mostrando ser um grande músico!
- o pai do João era militar e ele gostava muito de armas. Tinha porte e andava sempre armado. Por isto,
combinamos que logo que chegássemos no estúdio ele me entregaria a arma que ficaria "bem quietinha" dentro de uma sacola. Quando saíssemos do estúdio eu devolveria.
Numa noite ele entrou no carro, me mostrou um
soco inglês e disse que não me entregaria. Tive um chilique, parei o carro e
disse que ele descesse com o seu soco inglês. O coitadinho se assustou
com a minha reação e achou que seria melhor me entregar.
- Em uma outra noite, entrou no carro com uma garrafa de
vinho e uma taça. Embrabeci, mas não adiantou nada. Chegamos no estúdio e a
primeira coisa que ele fez foi encher a taça e beber. Bem nesta hora, entra no estúdio o Aneli, que quase nunca aparecia. O João não sabia o que fazer. Ficou completamente sem graça, escondeu a
taça e a garrafa e não tomou mais o vinho.
- No final das gravações o estúdio ofereceu um churrasco em
sua homenagem. O clima era de seriedade e o ele estava bem faceiro. Lá pelas
tantas, surgiu aquele outro João e começou a fazer um discurso sobre o exército
brasileiro na guerra. Foi se empolgando e o Toneco e eu sabíamos que não ia dar
certo. Então, o Toneco, que estava ao lado dele, deu-lhe uma joelhada por baixo
da mesa e na mesma hora ele ficou querido de novo.
Agora fico pensando naquela passagem, acontecida em 1967,
quando o grupo “Canta Povo”, do qual o João fazia parte, estava pronto para
assinar um contrato com a Philips e João brigou com o diretor artístico da
gravadora Armando Pittigliani. Quem sabe faltou alguém que desse uma joelhada
nele por baixo da mesa?
Pois é, este era o João das Palmeiras, um menino
transgressor. Não foi por acaso que durante muitos anos ele foi pra nós o Joãozinho.
O CD, modéstia à parte, rsrs, ficou muito bonito, fez muito sucesso e os que participaram comentam que se sentem orgulhosos. João ficou feliz e, o mais importante, seu talento foi reconhecido e valorizado.
Foi lançado em 1995, com um show no Teatro Renascença, em Porto Alegre com a presença de quase todos os músicos que participaram do CD e com o teatro lotado. João ameaçou não ir, se atrasou, mas foi. E tudo saiu perfeito, para alegria geral!
6.1.22
La Golondrina
Há algumas músicas que tocam o meu coração, vão bem lá dentro.
Uma delas é "La
golondrina" ( A Andorinha) e quando fiquei sabendo sua história, a música me tocou mais
ainda.
Narciso Serradell, mexicano, compôs a melodia em 1862, quando esteve exilado fujindo da invasão francesa. A letra é um poema escrito em árabe, pelo último rei muçulmano Aben Humeya, de Alpujarras (sul da Espanha), lugar que teve que abandonar após ser vencido lá por 1500, com tradução de Niceto Zamacois.
Na época em que
foi composta tornou-se o hino dos exilados mexicanos.
Foi gravada por
vários grupos e cantores, entre eles, Nana Mouskouri, Caetano Veloso, Elvis
Presley, Nat King Cole e Plácido Domingo.
"En el siglo XIX el águila
representaba el carácter militar de un país que luchaba por su autonomía bajo
las armas francesas. La diferencia del águila se encuentra en la golondrina,
una avecilla, que fue inspiración de poetas y músicos, muestra sensible y
poética de lucha, que exigía su libertad."
em http://indreamsonly.blogspot.com/2011/07/la-historia-narciso-serradell-sevilla-y.html
Tradução livre:
Aonde irá a andorinha que daqui se vai veloz e exausta,?
Por causa do vento está extraviada, busca abrigo e não vai encontrar.
Colocarei seu ninho junto à minha cama, onde ela possa passar a estação.
Também estou perdido na região, oh, santo céu, sem poder voar.
Também deixei a minha pátria idolatrada, essa mansão que me viu nascer.
Hoje minha vida é errante, angustiada e para a minha mansão não posso voltar.
Ave querida, amada peregrina, aproximarei meu coração do teu.
E vou lembrando, terna andorinha...
Lembrarei da minha pátria e chorarei
Saudade das nossas viagens
14.11.21
Giba Giba na voz de Maria Lucia
Em 2005, apresentei em Porto Alegre, o show “Um outro um -
canções de Giba Giba e seus parceiros”, com a participação do Giba, do Toneco
da Costa , do Thiago Carretero e do
Giovanni Berti - Perc . Foi gravado ao vivo pelo Bruno Klein .
Dois anos depois, no Porta da Toca Estúdio, gravamos
algumas canções, com a participação, além de Toneco da Costa e Tiago Carretero,
do Fernando Do O Neto e do Franco
Salvadoretti . A ideia era lançar o trabalho em CD.
Em 2009, vim para Florianópolis e em 2014 o Giba Giba
faleceu...
Agora, em 2021, com muita alegria retomei o projeto e daqui
a pouco vai estar nas diversas plataformas o álbum “Giba Giba na voz de Maria
Lucia” com dez destas canções (seis gravadas em 2007 com a participação de Giba
Giba em duas delas e as demais gravadas ao vivo em 2005).
Para melhor divulgar o álbum, foi produzido um clip com a
música “Outro um” (parceria de Giba Giba com Xyco Mestre) editado por André
Wofchuk, da Colateral Filmes, que agora compartilho com vocês.
Giba Giba foi um grande compositor e seu trabalho não pode
ficar sem registro!
Um abraço a todos!
7.11.21
Paris, outubro de 1993
Hoje, 2 de novembro, “Dia de Finados”, contei para meu neto Gabriel que ia escrever sobre uma viagem que fiz à Paris. A minha ideia é de que ele e os outros netos leiam quando eu não estiver mais por aqui, para se lembrar de mim e se alegrar. No início, ele ficou um pouco assustado, mas depois gostou da ideia.
Como eu me lembro de como foi a viagem? Porque fazia álbuns que ainda tenho, com fotos, recortes e anotações. Teria muito para contar, mas vou poupar os meus netos e os outros possíveis leitores e tentar resumir, rsrs.
Sempre adorei viajar e foi em 1993 que ganhei um presentão dos meus pais: encontrar em Paris o meu filho Miguel (então com 14 anos), que estava vivendo com o pai na Inglaterra. Eu não o via há seis mese e estava morrendo de saudade. Naquele tempo não havia internet e uma chamada telefônica era caríssima.
E por que em Paris? Porque lá viviam os amigos Toribio-Schmidt (Schimitão, Mary e seus filhos Rafael e René, que eram amigos do Miguel e Laetícia, então com dois aninhos). Todos me receberam de braços e corações abertos e foi um mês inesquecível e maravilhoso.
Para poder
ficar este tempo na França, meu pai e minha mãe tiveram que apresentar no Consulado uma declaração de
que arcavam com o custo da viagem. Como arquiteta do governo do Rio Grande
do Sul meu salário não era o suficiente para fazer esta viagem.
Dia 3 de outubro cheguei a Paris emocionada e um pouco assustada. O aeroporto parecia estar em outra escala, as escadas rolantes ficavam dentro de tubos de acrílico, parecia que eu estava em outro planeta. Schimitão estava me esperando e voltamos por uma autoestrada supermoderna. Sim, era mesmo outro planeta, rsrs
O apartamento, no sul de Paris, ficava no 21º andar e da janela se via o Pantheon, Notre Dame, o
Sacré Coeur e o Arco do Triunfo(que não se vê na foto). À noite se via o Sacré Coeur iluminado!
No dia seguinte,
começou a minha aventura. Meu francês aprendido no ginásio e no Yazigi (uma escola de
línguas) ainda estava afiado e então lá fui eu.
Queria começar visitando a Notre Dame. Mary me orientou qual o ônibus eu deveria “pegar” e onde descer. Nem sei descrever o que senti quando vi a catedral ao descer do ônibus, só lembro que não acreditei que eu estava lá, rsrs. Quando entrei me senti em um filme, com a trilha sonora de um coro de meninos e é, claro, chorei muito.
E, nos dias seguintes, segui me maravilhando e me emocionando a cada nova descoberta. As árvores em tons de outono, os monumentos que eu conhecia por fotos e filmes, tudo que eu via fazia eu me sentir em um sonho. Estava muuuuuuuuuuuuuuito feliz!
No dia 6, Schimitão me levou para um longo passeio, caminhamos, caminhamos e caminhamos. Passamos pela feira na Rue Mouffetard, comemos “sanduiche grego”, com carne de ovelha e compramos caranguejos, tudo novidade para mim.
https://www.centrepompidou.fr/en/
E lá estavam outra vez as escadas rolantes dentro de tubos transparentes e, na medida em que íamos subindo, a cidade ia se mostrando. Muito emocionante. Vimos obras de artistas contemporâneos, o museu de arte moderna, havia cadeiras confortáveis para ver as obras, tudo tão civilizado!
No final da tarde comemos sorvete Berthillon na Ille Sant Louis. Lugar lindo, pensei em como seria bom me mudar para lá, rsrs
No domingo, 10 de outubro, Miguel, Renê e Rafael foram à Euro Disney. Adoraria ter ido e no dia seguinte, ouvindo as histórias deles, fiquei um pouco arrependida. Mas, quem sabe se eu fosse os meninos não teriam se divertido tanto, livres, leves e soltos?
Ao invés de ir com eles, fui visitar a mãe da Mary (o que foi muito bom) e depois fui caminhar sozinha. Ao anoitecer, apesar de ter um mapa me perdi e foi muito ruim não saber onde estava. Me assustei e foi bom ter durado pouco tempo, a sensação foi muito ruim.
Do álbum aquele que falei lá em cima: “Estou encantada com a boa convivência do moderno com o antigo. É tudo automatizado nesta cidade que tem passado por todos os cantos. Há placas nas ruas e nos prédios contando o que aconteceu naquele lugar, quem viveu ou morreu naquele prédio. Não tem outdoors e nem backlights. Viva!”.
Miguel e eu, comemoramos em Paris os 25 anos do Big Mac!
No dia 11, visitamos a Torre Eiffel. Miguel subiu até a 3ª plataforma e eu até a 2ª (este ingresso era mais barato). Depois, me arrependi porque o Miguel demorou muito para voltar. Impressionante a quantidade de turistas e de vendedores de quinquilharias (que desaparecem quando a polícia chega).
Lá vi obras de Van Gogh, Toulouse Lautrec, Gauguin, Renoir, Manet e tantas outras que já conhecia dos livros de pintura do meu avô Sampaio, que eu via desde muito pequena na casa dele.
No café ali em frente (que aparece lá atrás na foto), paguei 20 francos por uma Coca
Cola que, normalmente, custava 8
francos. E eu já sabia que não se deve comer e nem beber nada no entorno dos
museus, rsrs
Miguel adorou o Musée de l'Armée, museu da história militar, com uniformes, armas, desenhos, pinturas...
No domingo, dia 24, Schimitão me levou para mais um passeio à pé. Desta vez me mostrou também as entranhas da cidade, onde moravam os clandestinos, muitos cortiços e pobreza, triste...
Sim, rsrs, naquele tempo era assim, uma decepção. A Monalisa dentro de uma caixa de metal, com um vidro à prova de flash e na frente dela um monte de gente.
p.s. dia 5 de novembro voltei para casa. Dois dias antes iniciou uma greve da Air France no Charles de Gaulle e os sindicatos ameaçavam criar um "pandemônio", mas foi só um outro susto, rsrs
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"Hay más verdad en los recuerdos que en la historia." Remis Ramos Belmar Para nós, brasileiros que viv...
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